sábado, 19 de março de 2011

Éramos dois ou A bicicleta-novela.


Enquanto te carregava, sentia o meu proprio peso, e naquele momento era/éramos leves. Sabia que a qualquer momento um de nós cairia. O tombo é quase sempre inevitável quando os olhos se fecham. Te carregava com uma alegria serena, de quem aprende a caminhar, com a segurança de quem confia em suas pernas, e com a força de quem protege um segredo. Minha alegria infantil misturava-se com a sua gravidade, com seu peso em corpo leve. Peso de quem já entendeu que a qualquer momento alguém morre. Peso de quem compreendeu que amar é essa estranha dialética de abertura e fechamento. Estava eu ali, atento aos carros, a velocidade, aos meus pensamentos. E seu toque na minha cintura, sua mão que deslizava pelo meu corpo, que me estranhava, que me reconhecia.

No fundo nós dois ali naquela bicicleta éramos muitos. Rodávamos como os pneus no asfalto. Eramos jovens, crianças, eramos cansados, com um pouco de esperança, amargurados, cheio de ansiedade, éramos famintos, pequenos, éramos inocentes, éramos agressivos. Eramos puros, lascivos. "Éramos dois"

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