domingo, 22 de julho de 2012

se.

Se tivesse a habilidade com as palavras descreviria paisagens internas e construiria imagens que se dissolviriam em pensamentos e em sintaxes. Se soubesse escrever falaria da forma como um peito pode afundar em direção a coluna vertebral
Talvez pudesse contar uma história simples, de alguém que na dificuldade em encontrar um sentido se ocupa de coisas simples como passear com seu cachorro e arrumar gavetas. Ordenar gavetas é uma maneira de se manter em pé.
Angustia é ferrugem colada ao peito, é o coração tentando espaço para existir entre tantos órgãos e contradição. Exist-Ir entre visceras.
A inabilidade com o alfabeto impede-me de dar um passo em direçao ao que é estranho.
Escrevo com desejo sincero de fazer saltar palavras/soluços, para tocar o som da água que transborda. Inscrevo para ser lido.
Nele nada transborda. Corpo concreto. Cimento só existe se ouver líquido. Não falo de água, pois tenho medo da redundância. Falo de cimentos.
Se soubesse ordenar palavras destruiria pedaços de experiencias, reconstruiria alguns encontros. Se soubesse tecer narrativas vingaria-me. Escreveria poemas em forma de chutes. Tocaria seus olhos, ou afundaria minhas unhas em sua carne. Inventaria narrativas que te levariam para lugares escuros, que jamais permiti ser visto. Se fosse me dado o direito às letras, inventaria palavras ou escreveria um livro com meio e fim. Não daria nenhum começo.
Começos desconhecem intimidade.
Se soubesse escrever enviaria cartas. Se soubesse escrever agrediria (teus) ossos.