quinta-feira, 31 de março de 2011

de olhos abertos.


São 4h08 , um homem está acordado, enquanto outro dorme. J. percebe a insônia. M. dorme como um anjo. São dois amantes

Um sonha,

outro provavelmente tem fome.

Anjos dormem? J. se pergunta já com os olhos fundos de quem não compreende esse abismo que é o sono.


Se dormir tem qualquer coisa de morte, dividir uma cama é algo tao claustrofobico como a idéia de um caixão para dois, você me entende?


J. não conseguia morrer ao lado de ninguém. Levantou-se, pediu um taxi e voltou para sua casa. M. continuou na mesma posição que estava, o mesmo jeito de trançar os braços que aprendeu talvez aos seus 7 anos de idade.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Balas, relogios e amor imperfeito.

Imagine dois relógios iguais, um ao lado do outro, marcando a mesma hora. Imagine agora um tapete feito de balas e exposto numa galeria de arte. Imagine que esse tapete tem o mesmo peso que a soma do peso real do artista +o peso do corpo de seu parceiro . 163 kg? 145? Imagine que você, público, você leitor, possa pegar uma bala se quiser e levar para sua casa. Imagine que esses 163kg possam desaparecer. Da mesma forma como as pessoas desaparecem, como um corpo desaparece, como um gesto desaparece Esses dois trabalhos chamam-se Perfect Lovers (o trabalho dos relogios) e Untitled 1 (da série chamada Placebo)e são do artista cubano Felix Gonzalez Torres.


Não pretendo fazer aqui uma análise sobre sua vida e obra. Apenas gostaria de comentar um dos seus trabalhos mais conhecidos e talvez fazer algumas conexões e/ou digressões a partir deles. Esse texto é apenas uma tentativa de tecer relações, a partir do que o trabalho de Félix me provoca e tentar pensar a busca e a im-possibilidade pela perfeiçao, seja ela no amor, na dor, no tempo, ou na dança.


Félix Gonzalez Torres foi um artista cubano, nascido em Guatemaro em 1957 e por complicações decorrentes da AIDS morreu em 1996 em Miami. Sua vida e sexualidade estão intimamente ligadas e presentes em sua obra, borrando assim espaços fronteiriços entre arte e vida. A perda e a ausencia de seu parceiro, que morreu seis anos antes dele se presentificaram em mais de um de seus trabalhos


Em Perfect Lovers, Gonzalez utiliza dois relógios (analógicos) como metáfora para falar de sincronicidade, perfeição e amor. Perfect lovers é um ready-made poético, que brinca também com a noção de tempo e morte. Perfect Lovers é talvez uma ironia que "diz"escancaradamente: Amor ou Amantes perfeitos não existem. Ou quem sabe ainda seja uma obra romântica e ingênua que relaciona tempos iguais, ritmos iguais à perfeiçao. Ou talvez não seja nada disso. O unico contato que tenho com essa obra é através do registro fotográfico. Se precisasse descrever friamente a obra diria que o que vejo são apenas dois relogios parados na mesma hora, e o título em português se traduz por Amantes Perfeitos. Bom, isso de fato, já contém uma potência metáforica enorme.



Porém o que me chama a atencão é que os relógios durante a exposição não permanecem parados, como vemos nos registros iconográficos. Os ponteiros que marcam as horas, minutos e segundos estão sincronizados. Seria isso Amantes perfeitos ? Há poucas semanas, em uma conversa com uma amiga fotógrafa, que também tem muita curiosidade e admiração pelo trabalho de Félix, descobri que em uma das galerias na qual a obra estava exposta, houve um problema com as pilhas de um dos relógios, e obviamente eles começaram a marcar horários diferentes. O artista não teve muito como interferir, pois seria praticamente impossível que ele conseguisse ter o controle do gasto de energia das pilhas para que os ponteiros permanecessem em unissono durante todo o período de exposição. A probabilidade de relogios analógicos se desconectarem é bastante grande. (observem na foto acima que os segundos já estão um pouco decompassdos)

Dizem (tenho aqui que utilizar o "dizem",pois não tenho a referência exata da fala de Gonzales, nem da situação de erro com as pilhas) que a partir disso ele se questionou sobre seu conceito/desejo pela perfeição.

O erro alterou-o de alguma maneira e alterou tambem o próprio conceito da obra. O que me comove em Perfect Lovers e na arte é a idéia de que um trabalho pode mostrar coisas que nem sempre estão sobre o controle de quem cria. Que o ato de criar é esse lugar complexo de programação, acaso, tentativa, erro. Estar atento ao acaso ou ao erro pode ser uma forma de estar na vida, de lidar com nossas expectativas e frustrações diante o ato artistico. O desvio ou o acaso podem se incorporar na criação (vida).


A relação entre arte e sobrevivência, tão intrinsica no projeto estético de Gonzalez, é outra questão que também muito me instiga, , mas que talvez seja um tema para um proximo texto.


Essa semana tive a felicidade de ganhar de presente o livro Filosofia Cinza da filósofa Marcia Tiburi. Em um dos capitulos chamado A Arte a a Morte, a autora comenta um pouco sobre a obra A vida e morte de Regis Debray. Para Debray isso que chamos de estética tem a ver com algo bem prático que é a necessidade de sobreviver. Tiburi, na sua leitura sobre a tese de Debray afirma ser a estética uma estratégia de sobrevivência para nos mantermos na eternidade. Estética seria também uma forma de nos separarmos de nossa angustiante condição mortal, de putrefação.


Resumo rapidamente esse capítulo apenas para comentar duas perguntas que me ocorreram durante essa leitura. A dança, assim como a imagem, não seria também uma forma/estratégia de lidarmos com nossa condição precária de não eternidade? O "amor " tema/questão essa tão presente, escrita, pintada, representada, dançada, saturada, em diversas manifestações artisticas, não seria também uma maneira de lidarmos com horror da hipotese que é a inexistência de Perfect Lovers, ou Amores Eternos?


Dedico esse texto a Fernando de Proença que "entretantas" coisas, me ensinou que amar é qualquer coisa de (im)perfeito

sexta-feira, 25 de março de 2011

tentativa de dialogo entre 1 e 2.

A distância entre eles era clara. Enquanto 1 tentava formar palavras que des -crê-vesse um pouco de seu des-espero, 2 encomendava uma camisa nova por um site de compras qualquer. . A conversa era estabelecida pelos dedos. O unico som existente era o barulho e a pausa das teclas. 2 pensava na ração de seu cachorro, enquanto 1 esperava uma previsivel resposta monossilabica. O som da voz de 1 tinha o mesmo grunhido dos mudos, que por uma deficiência fisiológica aprendem a cantar e chorar pelas mãos. 1 esperava, e seus olhos iam se cansando com a claridade da tela. 2 se perdia entre inumeras janelas abertas. A cada minuto passado a conversa (será esse o nome para o que eles faziam?) se tornava cada vez mais ab-surda. 2 era surdo. 1 estava cego. A apatia de 2 se opunha ao desjeito urgente de 1.

1 ia cavando um buraco em seu peito. 2 descascava uma pêra.

quinta-feira, 24 de março de 2011

a Menina e a Porta


Vem de menina essa minha atração e medo por portas. Das poucas imagens que tenho de minha infãncia uma das mais fortes é o dia em que tentei atravessar uma porta fechada. Foi nesse dia que percebi o limite entre o meu corpodesejo e o mundo. Foi nesse dia que aprendi na escola sobre ditongos e hiatos. Achei bonito saber que hiato é o encontro entre duas vogais na mesma palavra, mas da mesma maneira que não entendia o porquê que meu corpo não atravessava uma porta, não compreendia por que os hiatos eram separados na tal da separação sílabica.

Desde esse dia desconfio que há alguma coisa em comum entre portas, hiatos e amor. Sa -í -da é um hiato. Portas não.


Talvez não venha da porta o meu medo, mas do que pode estar por trás dela. Nenhuma porta deveria ter chave, pensava eu. Portas tem fechaduras. Fecha -dura. O trocadilho é infame, eu sei, como todo trocadilho. Infame também era a minha curiosidade por todo ruído que vinha de trás de uma porta cinza de madeira, de uma grande casa, aparentemente abandonada da rua em que eu morava com minha avó.


De vestido de menina e meias vermelhas, equilibrava-me na ponta dos pés por minutos.Minhas primeiras danças nasceram da vontade de ver o que se escondia de mim. Os olhos e ouvidos atentos a qualquer som que pudesse vir de dentro da casa abandonada. Eu espiava. Nunca nessa época tive a idéia de tentar abrir a porta. Nunca ninguém veio abri-la para mim. Nunca virei bailarina.


Como toda menina curiosa, cresci, e meu corpo adolescente, corpo mulher ganharam marcas. Meu primeiro hematoma, do dia que tentei atravessar a porta, desapareceu. Surgiram outros. Tive ao longo de meus anos vividos outras colisões. Alguns corpos com quem estive eram muito parecidos com as portas de minha infância. Impossivel atravessá-los. Impossível ver ou ouvir o que se passa por dentro.


Dificil separar no meio caótico de minhas lembranças o que eram pessoas e o que eram portas. Tudo está um pouco misturado, tamanhos e texturas.


Dessas imagens-lembranças a que eu recordo com frequência é a de um antigo programa de auditório que assistia junto com minha avó. Ela sempre se emocionava muito, e eu achava tudo aquilo de uma bizarrice gigante. O apresentador eu não lembro o nome, mas parecia um grande boneco de cera. E as pessoas que iam a esse programa eram sempre meio sujas e feias eu achava. Algumas aleijadas. E sempre pediam algo.


O Boneco de cera/apresentador ficava na frente de uma porta enorme, e fingia ouvir atentamente os pedidos das pessoas. Aquele suspense me irritava, queria que a tal porta se abrisse logo. Vovó as vezes chorava. A porta muitas vezes abria e lá estava o pedido da pessoa realizado. Vovó sempre dizia que o Boneco de cera tinha um coração muito bom. Mas muitas vezes, as pessoas voltavam pra casa sem o pedido realizado, a porta se abria e não havia nada dentro. Vi várias vezes alguns aleijadinhos irem embora sem cadeira-de-rodas, ou sem seus novos aparelhos ortopédicos.

Minha avó me dizia também que era preciso ter esperança, que um dia eles iriam ganhar o que precisavam. Eu, menina, curiosa, nunca entendi por que o Boneco de cera não avisava para as pessoas que elas nao iriam ganhar nada. Ficava com dó delas sairem de casa só para aparecerem na TV.


No fundo todos nós esperamos que alguma porta se abra dizia minha vó. E eu sem muito entender respondia: é que somos todos meio aleijados não é?


foto de Fritz Jr.

terça-feira, 22 de março de 2011

Enchente

Transborda-me agua pelos olhos e pelas ausências/a boca suga em desespero/clichê freudiano. Escapo-me de minha propria enchente. Disfarço a dor com um sorriso antigo. Minha mãe envelhece como todas as mães/

Argumento 1 para um coração exposto


abriu o peito, retirou orgãos e visceras e trocou por pedras britas. Pacientemente costurou a pele exposta, que já oxidava como maçã cortada. Fechou-se delicadamente com linha de anzol. Seu peito, pulmões e coração transformaram-se em asfalto depois de tres dias.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dois homens


Prometo, isso não é um texto sobre amor. Não é sobre mim, não é sobre você. Isso é uma tentativa de criar uma espécie de dança-narrativa O cenário é uma linha_______________________. Tente imaginar dois corpos sobre essa linha, a gravidade existe, não sei se felizmente ou infelizmente, mas é ela que os mantêm em pé. Esses dois corpos tem qualquer nome, eles são do sexo masculino, poderia ser um homem e uma mulher também, mas a maneira como eles se tocam me faz pensar em dois homens. Esses dois corpos homens, que poderiam ser dois corpos mulheres, estão parados um ao lado do outro. A distância entre um corpo e o outro é pequena, o que revela ao menos uma intimidade física. Como toda dança há nesse jogo entre dois corpos algumas restrições. Os dois se movem ora de olhos abertos, ora de olhos fechados. A maneira como um dos corpos se movimenta me lembra um bicho, um corpo abatido, um corpo que vai para o abate. Um parece entender mais a distancia e até os seus próprios buracos. Um corpo é pele. Outro corpo é osso. Um homem fala, outro homem finge ouvir. Sim, se trata de uma dança em que um fala e outro quase escuta. Os dois não se tocam. E uma dança de pequenas ações e gestos. Um deita, outro levanta. A vontade é de desmoronamento. Um dos corpos, (o do que fala), se esforça por não cair. O homem que finge ouvir também finge uma certa leveza. Sem perceber eles se esbarram. Sem perceber eles perdem um pouco o controle. Há nessa dança, como na relação entre esses dois homens, movimentos voluntários, como o que eles fazem com as pernas e com os braços e movimentos involuntários. O coração dispara involuntariamente. O som grave do coração se opõe a graciosidade das mãos e pernas. O coração dança em estacato. Um dos homens pausa, enquanto o outro para e percebe o desenho e o peso de suas olheiras. Há uma certa tristeza e ansiedade em um desses homens. Um deles improvisa qualquer movimento no espaço. Não há risco nessa dança. Alguém que espera é capaz de cair, de ir ao chão. Em toda dança de espera há sempre alguem que ri, enquanto alguém colapsa.

Filme Les Amours imaginaires


"E quando finalmente vem um novo e-mail na minha caixa de entrada, a mensagem não é dele, é da Amazon.com"

sábado, 19 de março de 2011

Éramos dois ou A bicicleta-novela.


Enquanto te carregava, sentia o meu proprio peso, e naquele momento era/éramos leves. Sabia que a qualquer momento um de nós cairia. O tombo é quase sempre inevitável quando os olhos se fecham. Te carregava com uma alegria serena, de quem aprende a caminhar, com a segurança de quem confia em suas pernas, e com a força de quem protege um segredo. Minha alegria infantil misturava-se com a sua gravidade, com seu peso em corpo leve. Peso de quem já entendeu que a qualquer momento alguém morre. Peso de quem compreendeu que amar é essa estranha dialética de abertura e fechamento. Estava eu ali, atento aos carros, a velocidade, aos meus pensamentos. E seu toque na minha cintura, sua mão que deslizava pelo meu corpo, que me estranhava, que me reconhecia.

No fundo nós dois ali naquela bicicleta éramos muitos. Rodávamos como os pneus no asfalto. Eramos jovens, crianças, eramos cansados, com um pouco de esperança, amargurados, cheio de ansiedade, éramos famintos, pequenos, éramos inocentes, éramos agressivos. Eramos puros, lascivos. "Éramos dois"

quinta-feira, 17 de março de 2011

Quando a maizena empedra ou contando ////


No fundo era do medo do abismo que você fugia. Estou parado e minhas mãos, nervosas, desenham pensamentos no espaco. Meus dedos-ansiedade se mexem de maneira tensa e articular. A boca mastiga o tempo e a espera. Cada segundo me escorre como lâmina afiada_________________________________enquanto conto os minutos passados em palitos /////////////////////////. Onde você estava que não te vi? Conto 235 palitinhos. Você atrasado. Lembro do dia em que me disse que era leve e que não suportava nenhum peso. Minha bacia pesa. Pensei que também queria ser leve como você, mas não podia deixar de sentir os pesos de meus ossos. Meus ossos tem água e tem peso, você sabia? 485 ///. Não irei repetir a palavra palito, até porque não acho sua sonoridade interessante. A partir de agora tente entender o que eu desenho. Sei que você pode ser capaz. Tente imaginar uma noite chuvosa, uma pessoa debaixo de uma marquise esperando uma outra que não chega. A situação pode ser outra se você preferir. Alguém na sua casa, grudado ao lado de um telefone, esperando pelo som que não toca. Bom, teria outras inúmeras situações que poderia descrever, mas acho que você entendeu que o cenário é de espera. Conto 756 //.


Debaixo da marquise rasgo o papel de presente. Olho para o presente que não te darei, pois você não chegará, nem ao fim desse texto, nem daqui uma semana. Você é uma falácia, ou seria você um fanstasma? O presente: um livro que acho que você nunca lerá, mas que se quiser te enviarei um resumo por e-mail. Trata da historia de uma nordestina que toma aspirinas na tentativa de parar de se doer. 987///. Penso no meu dorflex que esqueci na mesa de casa. Como a nordestina do tal livro, tambem me viciei em analgesicos, mas ainda sinto que alguma coisa continua me doendo. 2345//. O telefone toca. Disfarço o engasgo da minha voz. Sabe aquela sensação horrivel, de perder o controle da propria voz? Você suave, você alegre, você falácia me convida para uma festa, para dançar, para sair debaixo dessa marquise. Meus pés ja estão cravados. A espera foi grande, acho que você pode imaginar o que e contar lentamente 5682 //. Juro, contei lentamente. Não aceito o convite. Volto para casa, tomo o meu dorflex. Não lembro onde deixei o presente que nunca receberá. Tento dormir.

quarta-feira, 16 de março de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

oração a alguém distante.


bocasecanervosempele. é um desejo sem nome. com um rosto desconhecido. Escapulo -tombo-deslizo. . Tonteio, pernas bambas. Encontro entre palavras e nervos um pouco de silêncio. Flores secas. Quando o que a gente sente não tem nome? Quando o coração palpita nervoso? E quando a vontade é de revirar gavetas e todos os meus tecidos. Essa vontade é doída. quase agulha debaixo das unhas. Faço um poema pra você. Você surdo. Voce Tomé cego. Santo. Distante. Você que um dia me leu, você que um dia soube e até contou as minhas palpitções. Você que me ofereceu maizena e dor. Você, longe. Entre eu e você um oceano de distância.

Meus pensamentos/palavras são o que restam agora de tudo o que me atravessa. Aqui a temperatura é sempre a mesma. Respondo todos os dias as mesmas perguntas, e algumas vezes gargalho das não -respostas . A resposta é apenas um pretexto para mexer meus labios. Ofereço pra você um poema em /// . As minhas pernas, hoje doloridas, daquela dança estranha. Dança de ossos e cerebelo. Te entrego meu inventário de sentimentos. Meu inventário de clichês, de imagens desgastadas, de palavras repetidas. Eu te amo escapa, com água e dor. Silencio cavado.

Sua incapacidade de abstração me enche de legendas. Sou um corpo legendado. Esbarro em espaços fronteiriços.. Tenho dedos que movem sozinhos, em direção ao ar, à boca. Essa dança estranha de meus dedos nasceram dessa sua ausência. Você cego. Voce Tomé. Você santo. Você inexistente. Esbarro em espaços inexistentes. Você uma bola verde escrito "disponivel". Você virtualmente vivo. Você que lateja. Cego. santo. Suporto meu peso.

segunda-feira, 14 de março de 2011

espeta coração espeta.


o que sou e não posso dizer que sou


de Luana Navarro.

Erotismo e poesia

"La poésie mène au même point que chaque forme de l'érotisme, à l'indistiction, à la confusion des objets distincts. Elle nous mène à l'éternité, elle nous mène à la mort, et par la mort, à la continuité: la poésie est l'éternité. C'est la mer allée avec le soleil" - G. Bataille.

nota sobre o Menino Buraco

Perturbado pelo filme Pillow Book, Menino Buraco caminhou por ruas estreitas atrás do escritor que pudesse tatuar seu corpo. Não aceitava tintas, muito menos agulhas. Pedia para que apenas pedaços de pele e dedos increvessem seus vazios. Pediu para que o Rapazdobalcão o tocasse, mas deixando espaços incompletos. Menino Buraco entendia sua condição esburacada. Entendia que era feito de falta e de carne, que seu corpo era precário como estrada interditada, ffrio e liso como uma pista de gelo, macio como pedaço de algodão. ELe era feito de nuvens e metal. Alegrias e acidez...

nota sobre seu medo de altura

Foi com a curiosidade de uma criança que cospe pela janela de um prédio e se esconde, foi com vertigem de uma moça que se assusta com seu pavor de altura ou com seu desejo pelo voo, foi com todo o frio que existia na minha barriga que te mostrei meu abismo. Você não teve a mesma curiosidade da criança, a mesma intensidade da moça e nem a mesma temperatura de meu corpo. Você partiu, pq tinha medo da gravidade, medo da altura, medo da propria pele