segunda-feira, 21 de março de 2011

Dois homens


Prometo, isso não é um texto sobre amor. Não é sobre mim, não é sobre você. Isso é uma tentativa de criar uma espécie de dança-narrativa O cenário é uma linha_______________________. Tente imaginar dois corpos sobre essa linha, a gravidade existe, não sei se felizmente ou infelizmente, mas é ela que os mantêm em pé. Esses dois corpos tem qualquer nome, eles são do sexo masculino, poderia ser um homem e uma mulher também, mas a maneira como eles se tocam me faz pensar em dois homens. Esses dois corpos homens, que poderiam ser dois corpos mulheres, estão parados um ao lado do outro. A distância entre um corpo e o outro é pequena, o que revela ao menos uma intimidade física. Como toda dança há nesse jogo entre dois corpos algumas restrições. Os dois se movem ora de olhos abertos, ora de olhos fechados. A maneira como um dos corpos se movimenta me lembra um bicho, um corpo abatido, um corpo que vai para o abate. Um parece entender mais a distancia e até os seus próprios buracos. Um corpo é pele. Outro corpo é osso. Um homem fala, outro homem finge ouvir. Sim, se trata de uma dança em que um fala e outro quase escuta. Os dois não se tocam. E uma dança de pequenas ações e gestos. Um deita, outro levanta. A vontade é de desmoronamento. Um dos corpos, (o do que fala), se esforça por não cair. O homem que finge ouvir também finge uma certa leveza. Sem perceber eles se esbarram. Sem perceber eles perdem um pouco o controle. Há nessa dança, como na relação entre esses dois homens, movimentos voluntários, como o que eles fazem com as pernas e com os braços e movimentos involuntários. O coração dispara involuntariamente. O som grave do coração se opõe a graciosidade das mãos e pernas. O coração dança em estacato. Um dos homens pausa, enquanto o outro para e percebe o desenho e o peso de suas olheiras. Há uma certa tristeza e ansiedade em um desses homens. Um deles improvisa qualquer movimento no espaço. Não há risco nessa dança. Alguém que espera é capaz de cair, de ir ao chão. Em toda dança de espera há sempre alguem que ri, enquanto alguém colapsa.

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