sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Naquela casa

Naquela casa havia ele, havia carpê e escuro. Uma margarida na mesa da cozinha, e barulho de carros que atravessam paredes e distância. Naquela casa, que sentia a camomila e tabaco havia cantos por todos os lados. Havia um corpo, e diversas línguas. E como comum ao que é estrangeiro havia desejo pelas peles, pelos canos velhos, pelas sujeiras escondidas em móvel de madeira.
O buraco, nosso, da casa, era falha de construção. Arquitetura de falhas e de fantasmas. Cotidiano desejo.
Naquela casa, havia um São Jorge, uma rede e uma esperança de descanso. Havia remédios escondidos, pois há sempre um coração que dispara tiros e devaneios. Há sempre um pé que de repente vira, um pedaço de osso que torce, um estômago que não digere, um corpo que não dorme.
Naquela casa, muito engraçada, havia teto e também havia NADA.
Naquela casa havia um grande buraco. Um abismo, que percorria órgãos e pedaços de paisagem. Um buraco na sala de estar,bem ali onde se espera as horas amortecerem pensamentos. Onde se espera um telefonema, onde se espera o sono, onde se espera uma porta se abrir. Onde se espera todos os clichês possíveis.
margarina, amor e conforto.
Naquela casa, velha, havia homens, mulheres e um cachorro rabiscado em pensamentos. Havia uma televisão e inúmeros medos. Havia gargalhadas e gozo. Havia esper(m)a.
Naquela casa havia palavras, quatro dicionários e uma frase pichada no corredor:
Herz ist Klischee und Sturm. Es gibt drei Herzen in diesem Haus.
imagem - Alexandra Belissimo

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