segunda-feira, 28 de abril de 2014

dança sem título

Dançar é verbo curioso, é verbo de corte, de salão. É verbo pista, é verbo transitivo e intransitivo. Dançar em língua portuguesa pode ser sinônimo de se dar mal - "Fulano dançou". Há quem dance para acasalar, para emagrecer. Há quem dance em torno de um pau. Pool. Pinto. Cano. Há quem dance para abrir espaços, conhecer espaços. Há quem sonhe com valsa. Há quem sonhe Billie Elliot. Há quem dance as feridas de uma bomba. Há quem dance sem pernas. Quem dance com cadeiras, em cadeiras de rodas. Há quem dance pela web cam, com sua caneta, de olhos fechados. Há quem dance pelo simples e complexo desejo de conhecer algo. Se a dança é produção de conhecimento ela apenas existe/insiste pela vontade incessante de mover algo. De mover o chão, de mover os ossos. Dançar é verbo/ação/ potência de subversão. Talvez uma das questões presentes em inúmeros projetos contemporâneos de dança é a possibilidade de se dançar perguntas. Dançar é também duvidar, desconfiar. Duvidar do que é ser, ou do que significa ser brasileiro, do que significa ser homem, ser mulher, ser cachorro. Dançar é parafrasear antropofagicamente a pergunta de Espinoza: O que pode o corpo? O que pode o porco?

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