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quinta-feira, 21 de abril de 2011
carta poema a um senhor discreto
Depois de passar alguns dias entre trens e abismos,
decidi que tenho poemas para um livro
e que, de alguma maneira, cada um destes poemas
é uma carta endereçada
a um senhor discreto que, pouco a pouco,
me inscreve no olvido, ao Nada.
Depois de passar alguns dias enterrado entre espaços,decidi revelar a ele ou a você, em forma de meses, aquilo que nunca deixei escapar de meus lábios.
A esse senhor escrevo com letras de FORMA, com certa FORMALIDADE, de quem esconde pensamentos perversos, de quem esconde rasgões por debaixo da roupa.
O primeiro poema "JANEIRO" tem quase nada de beleza, pois nele o sol estala e aquece demais palavras ou vontades. Janeiro é um poema de quem não dorme, de quem não entende muito de verão.
Esse senhor pequeno discreto e de óculos, dificilmente muda a feição de seu rosto. Para ele entrego envelopes em cor parda, e a cada nova cartamêspoema tento me aproximar das veias saltadas de suas mãos. De olhos fechados suas veias e mãos atravessam meu corpo.
O poema FEVEREIRO é um desejo por carnaval, é um poema fantasia. A esse sonhor discreto peço apenas que compreenda que devaneio é também uma forma de sobrevivencia.
MARÇO ABRIL E MAIO foram mesespoemas de paralisia, pois com eles senti que minhas palavras podiam ser ausências, e era de ausências que esse senhor mais fugia.
JUNHO entreguei a ele um poema -envelope. Nele apenas uma folha vazia, e com ele todo o clichê conceitual que acompanhava meus pensamentos e minha espera.
Aos poucos esse senhor começou a me conhecer e reconhecer as pistas de meu amor-palavras. Antes de postar a carta JUNHO, recebi dele por mensagem, um recado dizendo que não aceitaria nem a palavra FRIO, nem INVERNO. Era como se ele descobrisse toda minha previsibilidade.
Não tive resposta, nem poema. O livro que agora escrevo, é um ano sem o mês junho. Fiquei um mês sem escrever.
A esse senhor discreto enviei juntamente com o poema JULHO pedaços de neve que viraram água.
AGOSTO foi o primeiro poema com humor, um poema chiste. De palavras e ditos populares. Cachorro louco, noiva e até desgosto se fundiram em rimas aparentemente pobres, mas com uma certa ironia. Não sei se você, ou mesmo o senhor discreto conseguem ver ironia que é essa dor de.
Dor de SETEMBRO
em cada lugar que procuro
tropeço nos mesmo buracos
viver é esse transito
entre vícios e colapsos
Sua resposta calou-me por mais um mês. Descrevo aqui, nesse livro, que é também de amor e vingança a sua mensagem: "não compreendo como tem coragem de rimar buraco com colapso"
OUTUBRO meu peito doia, e decidi que só iria escrever com rima. Dentro do envelope pardo, entreguei ao senhor discreto uma lauda de palavras que rimassem com OUTUBRO. Já não posso pronuncia-las
NOVEMBRO e DEZEMBRO enviei-lhe poemas com pedaços de minha pele. eram peomas de fim, e neles anexei dois de meus ultimos sonhos. Junto com minhas palavras envie-lhe meu corpo em forma onírica. NOVEMBRO E DEZEMBRO me expus em imagens.
O senhor discreto enviou-me numa maleta, em quase véspera de mudança de poema,digo, de ano, todos os meus envelopes e cartas, com um PEDIDO em LETRAS GARRAFAIS...
"NAO SUPORTO O PESO DE UM PAPEL"
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