domingo, 10 de abril de 2011

Uma formiga


Escrever é apenas uma tentativa de tornar visível aquilo que não consegui ver, que me escapou entre os dedos, junto com você. Se descrevesse cenas, ou criasse qualquer narrativa estaria cada vez mais longe daquela sensação estranhamente conhecida que é a da impresença. Ao seu lado, imagens se confundiam com memórias. Fechei os olhos, e como o menino do filme, me tornei uma formiga.


Bom, dizem que não existe encontro entre duas pessoas, mas sim entre dois desejos. Então parto desse ponto para tentar me/te/nos explicar. Seu medo encontrou meu desejo, e isso te causou um certo espanto.


Meu espanto foi de ver você partindo num ônibus, com medo até de olhar para trás. Disse que não descreveria cenas, e caio eu na descrição mais clichê possível, a de uma despedida. Alguém que vai embora e não olha para trás. Alguém incapaz de ser tocado.


Prometo também não falar a palavra coração pra descrever o aperto que senti ao saber que sua impresença era medo dos meus gestos, meus gestos maladroites, do meu corpo inquieto e das minhas palavras esburacadas. Não repetirei a palavra coração pois ha tempos aprendi que celulas neuronais estão espalhadas em outros órgãos do corpo, o que justifica o meu descontrole, e os meus tombos, o que explica as incessantes endoscopias, que nada acusam.


Fechei os olhos e me tornei uma formiga.


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