segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

mon coeur au diner

La scène se déroule dans un coin oublié d’une grosse ville. Les personnagens ont le visage effacé par le temps . Entre une replique et l’autre les larmes des personnages coulent par le sol. Le narrateur de cette histoire est mort noyé. La lumière est baisse. Les personnagens sont habillés en tenue de fête. Ils cachent leur deuil en maquillage coloré.

Personnage 1- … Voilà
Personnage 2- … Quoi?
Personnage 1- Nous.
Personnage 2- Toi et moi?
Personnage 1- Oui
Personnage 2- E c’est à dire?
Personnage 1- Rien
Personnage 2- Et c’est tout ce que tu peux me dire?
Personnage 1- Peut- être
Personnage 2- Voilà
Personnage 1- Quoi?
Personnage 2- Nous
Personnage 1- Toi et moi?
Personnage 2- Oui
Personnage 1- E c’est à dire?
Personnage 2- Rien
Personnage 1- Et c’est tout ce que tu peux me dire?
Personnage 2- Peut- être

champ de bataille

Si le corps est un champ de bataille mes désirs ce sont de fusils qui pointent les espaces vides. La fumé remplit tous les trous existants dans mes organes. La peau foulée par tes mains, par ton poids m’a laissé des empreinteschagrins. J’attire ma chair contre la tienne. Je t’offre mes dents et mes peurs. Tu t’en vas avec l’eau qui ne tombe plus.

Incruster


Liés par l’incomplétude du corps, ils rêvent. De la fenêtre 1 regarde la vie qui se déroule. 2 scrute les gens qui marchent comme des fourmis . 1 a l´’épaule collée à 2. 2 a la tête collée à 1. De la fenêtre ils regardent le passé, le présent. Ils scrutent un futur qui n’existe pas. À cause de la condition siamoise 1 et 2 n’arrivent pas à descendre les escaliers. 1 veut sortir. 2 ne veut pas bouger. 1 prend un couteau et serre la chair de son chéri. 2 observe le sang qui coule. La porte est fermée. 1 ne peut pas sortir. Les deux continuent à regarder la vie par la fenêtre. 2 voit les gens. 1 voit le sol. 1 laisse la gravité agir, réagir. 1 tombe. 2 continue debout sur la fenêtre, immobile. Le destin d’un amour siamois est toujours la mort.

le chemin de la campagne


Coupée en morceaux la fille attendait. Un homme devant le miroir vient de perdre sa memoire. La fille vient de perdre l’espoir, et eux, ils attendent. On voit le chemin devant nos yeux, mais il faut tenir les paupières ouvertes pour qu’on puisse nous perdre sans nous blesser.

le gouffre


Avant le precipice
Un pas perdu et
ton corps est tombé en laissant les empreintes dans mon sol
On s'est perdus

Un pas raté
le coeurgouffre nous a confirmé notre ENORME d i s t a n c e
un pas raté et on s'éloigne

Comme deux inconnus on ne s'est pas permis le touché
les mots
le manque

Un pas maladroit
le coeurbéton et tu t'en vas
je me reste, je me trace
notre amour est devenu "ça va"

mon coeur est devenu boiteux

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Para não me levar a lugar nenhum

Aprendi contigo o sentido etimológico da palavra seduzir e por isso ali,naquele exato ponto, cotidiano, de ônibus (a seu pedido coloco elementos urbanos em meus textos) não deixei-me conduzir. Paralisei-me por instantantes.O tempo justo de perceber a falácia de um discurso que deseja apenas admiração, que seduz. Estanquei-me. Meu sorriso, que até ontem era de uma sinceridade infantil coagulou como sangue de animal que morre.

Não deixei-me conduzir-me. Não preciso que me navegues, e meu desejo, era que partisse longe com seu barco, pois sabia (ainda a seu pedido, coloco um clichê em um texto meu)-

pressinto que seu barco é furado.Parto para minha minha casa com meu pequeno bote salva vidas.

domingo, 4 de setembro de 2011

Corpo de vidro

Pediu insistentemente para ser suportado, mas as mãos que o portavam eram lisas e temiam enormemente a possibilidade de contato, temiam a sensação de retorno.
Transparente como vidro, mudo de pessoa. Não era ELE quem pedia, era EU - não há personagens. há situações que se repetem, que se enfincam.

RECOMEÇO.

Pedi insistentemente para ser suportado, pressentia o risco do estilhaço, mas o embaço, palavra grotesca, perturbava meus olhos. Arrisquei-me a falar, e há qualquer coisa na voz que é vidro também. A voz treme, e dos meus olhos jorraram água e areia.

Cobri meu corpo de areia. Deixei os olhos expostos, justo para ter a clareza de que voce realmente partira.

Parti-me. Meu corpovidro estilhaçado, meus olhos míopes sem lentes tombaram. Toda queda é uma pequena morte, uma espera.
Ali, esperava apenas minhas lentes, ou um pedaço de vidro que me fizesse olhar aquilo que deixei escapar.

domingo, 3 de julho de 2011

uma conversa sobre tatuagens

Ainda não sei se consigo sentar ao teu lado, abrir o estômago, embrulhar o estômago. Desaprendi a dirigir como perdi novamente o controle. Meus ossos, tão rígidos se tornaram frágeis como aquela banal conversa sobre tatuagens e furos nas orelhas.

Não há amor sem palavra, e segundo aquela autora que você ainda não conheceu, toda palavra é tatuagem. Você falava de brincos e tatuagens enquanto meus órgãos, visceras e coração passeavam em roda gigante pelo meu corpo. A clichê espressão "o coração que sai pela boca" tornou-se carne.

Não há amor sem tatuagem, vc me disse então. E logo em seguida perguntou se minha pele era lisa, quero dizer, sem desenho algum, por medo de amarcair.

Não ha amor sem cicatriz, te respondi. E ali mesmo, tirei minha blusa e lhe mostrei cada marcamor que tive pela vida

quarta-feira, 22 de junho de 2011

mon coeur est une faute d'ortographie

une faute.

um texto em primeira pessoa


Atendi o telefone, e tive a estranha sensação de que nada existia, uma voz sem som do outro lado mostrava a desenvoltura de quem come um sanduiche e fala sobre amor como se falasse de notebooks. Não havia sentidonenhum ali, pensei. Tomei o medicamento dos dias sem vontade e deitei-me.

Não queria ouvir o toque do telefone. Há vozes que não transPARECEM, há adverbios de tempo que me trovejam, mas há também aqueles adverbios de esconderijo, pouco estudado pelos linguistas, que nada entendem de corpo em colapso.
Ali, naquela zona onde eu (não) podia te encontrar fechei meus olhos, e com a boca seca e a histeria de um "bom dramatico" percebi que poderia logo te esquecer. Seus lábios escondiam espaços e mentiras.


Foto de Alessandra Araujo- I know I’ll be Safe in These Arms | 2007

terça-feira, 21 de junho de 2011

justa palavra


E enquanto Paulo se repartia em água, dor e pedra, Otávio preparava o mesmo macarrão dos dias sem vontade. Sentia incômodo e leveza. Otávio fingia o não saber. Paulo, há dois dias-meses não dormia. Otávio há 3 meses-anos procurava a palavra justa para ir embora dali


Fotografia- Rose May - Uma palavra

sábado, 28 de maio de 2011

Bonecas de papel

Ela colecionava bonecas de papel, e as escondia entre segredos e fantasmas. Guardava em sua casa agulhas, saudades e marcas do tempo.
Não temia a solidão, temia espaços pequenos e sujeira nos cantos. Temia também a sensação de perder o controle de seu próprio corpo, pois sabia que corpo é selvageria, que altura é vertigem e vontade de conhecer abismos. Ela não olhava para debaixo da janela. Preferia horizontes, e eu (ele), a queda.
Ele(eu) não colecionava nada, a não ser os próprios vicios, que assim como o ato de colecionar bonecas ou moedas, é uma maneira de sobreviver a si (ao mundo).

sexta-feira, 13 de maio de 2011

para esconder vazios


Ele tinha a sensação que podia esconder seus vazios da mesma maneira que via em filmes de aventura. Imaginava que vazios podiam ser tapados como buracos em meio da floresta. Encheu-se de folhas. Escondeu-se atrás de papéis, que logo viraram palavras.

A sua-minha voz alegre contradiz toda minha-sua melancolia. Sorria como quem procurava algo, caminhava como quem se perde, chorava como quem se re-partia.

Sentia-se como rascunho. E era por isso, ele, sempre uma tentativa. Solidão é desenho rabiscado em pedaços do corpo. SOlidão é esperacinza. Solidão é desejo sem pontos. Solidão rasga______________________________

sexta-feira, 29 de abril de 2011

todo diario e uma falacia. Todo diario sonha em ser lido


"Para onde vão os trens, meu pai? Para Mahal, Tami, para Camiri, espaços no mapa, e depois o pai ria: também para lugar nenhum, meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti"


Essa noite tive um sonho estranho. Um sonho de gozo e de palavra. E como comum em sonhos, palavra e falo, em mim, penetravam. Misturo aqui sonho, realidade, diario parafrase e citacao;
Li num livro de capa bonita que a palavra ficcao vem de fingir.Entao por isso finjo/

Estou em Paris. E, sozinho, diante de uma janela olho para um mundo que me atravessa. Aqui e/esta passado e presente. Sinto a dor da bagagem carregada por horas em minhas costas; o peso da lingua. A lingua pesa e me faco entender pelos olhos. Estou em Paris como poderia estar no Rio de Janeiro, em Berlim, em Londrina ou em Marrakesh.


Meu peso e o mesmo. E se eu nada falasse, voce me compreeenderia? Fecho os olhos e desenho o caminho que meus gestos fariam se voce estivesse diante de mim. Desenho em meus pensamentos as colisoes entre meu corpo e o asfalto. Desenho a sensacao da minha boca diante da sua. Desenho quedas e aceno.

No sonho vejo seu rosto misturado ao de outros homens. Voce esta dentro e fora mim. Voce me oferece uma revista, assim, banal e poetico como o que e cotidiano.

Aqui em Paris, o ceu esta escuro e cinza; e eu penso em sair para comprar bananas. Viajar nao e chique, viajar me doi. Penso no amarelo da banana, mas me falta coragem. Me falta coragem de ver o que e real, que real nao vem de fingir, e que e do real que eu finjo. O real nos finca. Me falta coragem para comprar uma banana.

Li ontem, naquele seu livro preferido que Endecha e uma poesia que revela as dores do coracao. Conseguirei eu revelar alguma dor se nao escrever em versos?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

carta poema a um senhor discreto


Depois de passar alguns dias entre trens e abismos,
decidi que tenho poemas para um livro
e que, de alguma maneira, cada um destes poemas
é uma carta endereçada
a um senhor discreto que, pouco a pouco,
me inscreve no olvido, ao Nada.

Depois de passar alguns dias enterrado entre espaços,decidi revelar a ele ou a você, em forma de meses, aquilo que nunca deixei escapar de meus lábios.

A esse senhor escrevo com letras de FORMA, com certa FORMALIDADE, de quem esconde pensamentos perversos, de quem esconde rasgões por debaixo da roupa.

O primeiro poema "JANEIRO" tem quase nada de beleza, pois nele o sol estala e aquece demais palavras ou vontades. Janeiro é um poema de quem não dorme, de quem não entende muito de verão.

Esse senhor pequeno discreto e de óculos, dificilmente muda a feição de seu rosto. Para ele entrego envelopes em cor parda, e a cada nova cartamêspoema tento me aproximar das veias saltadas de suas mãos. De olhos fechados suas veias e mãos atravessam meu corpo.

O poema FEVEREIRO é um desejo por carnaval, é um poema fantasia. A esse sonhor discreto peço apenas que compreenda que devaneio é também uma forma de sobrevivencia.

MARÇO ABRIL E MAIO foram mesespoemas de paralisia, pois com eles senti que minhas palavras podiam ser ausências, e era de ausências que esse senhor mais fugia.

JUNHO entreguei a ele um poema -envelope. Nele apenas uma folha vazia, e com ele todo o clichê conceitual que acompanhava meus pensamentos e minha espera.

Aos poucos esse senhor começou a me conhecer e reconhecer as pistas de meu amor-palavras. Antes de postar a carta JUNHO, recebi dele por mensagem, um recado dizendo que não aceitaria nem a palavra FRIO, nem INVERNO. Era como se ele descobrisse toda minha previsibilidade.

Não tive resposta, nem poema. O livro que agora escrevo, é um ano sem o mês junho. Fiquei um mês sem escrever.

A esse senhor discreto enviei juntamente com o poema JULHO pedaços de neve que viraram água.

AGOSTO foi o primeiro poema com humor, um poema chiste. De palavras e ditos populares. Cachorro louco, noiva e até desgosto se fundiram em rimas aparentemente pobres, mas com uma certa ironia. Não sei se você, ou mesmo o senhor discreto conseguem ver ironia que é essa dor de.

Dor de SETEMBRO
em cada lugar que procuro
tropeço nos mesmo buracos
viver é esse transito
entre vícios e colapsos

Sua resposta calou-me por mais um mês. Descrevo aqui, nesse livro, que é também de amor e vingança a sua mensagem: "não compreendo como tem coragem de rimar buraco com colapso"

OUTUBRO meu peito doia, e decidi que só iria escrever com rima. Dentro do envelope pardo, entreguei ao senhor discreto uma lauda de palavras que rimassem com OUTUBRO. Já não posso pronuncia-las

NOVEMBRO e DEZEMBRO enviei-lhe poemas com pedaços de minha pele. eram peomas de fim, e neles anexei dois de meus ultimos sonhos. Junto com minhas palavras envie-lhe meu corpo em forma onírica. NOVEMBRO E DEZEMBRO me expus em imagens.

O senhor discreto enviou-me numa maleta, em quase véspera de mudança de poema,digo, de ano, todos os meus envelopes e cartas, com um PEDIDO em LETRAS GARRAFAIS...

"NAO SUPORTO O PESO DE UM PAPEL"

amores liquidos



Therèse

Alterna água quente e gelada sobre seus seios. Sente bolhas pelo corpo, e ouve o barulho de seus estouros. Grita em quase silêncio enquanto enterra seus pés num jardim. Uma mulher a observa pela janela.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Você - outdoor


O que se pode falar sobre a distância em cinco minutos? tenho exatos 3oo segundos pra tentar explicar ou me aproximar dessa linha que separa/separou eu de você, ou que separa tantas outras coisas. Distâncias mapas fronteiras. qual a distancia entre meus pulsos machucados e sua boca? A minha-nossa Distância tem fome e qualquer coisa de estanho. VocÊ não tem idéia do susto que levei ao sair de casa e ver seu rosto tão grande estampado/cravado naquele outdoor. Senti-me invadido. Minhas pernas paralisaram meus pensamentos. Parei por segundos na frente do outdoor, e aqui nao vem ao caso, dizer minha opnião sobre a tal publicidade que voce escolheu fazer, o que tenho urgência em falar é sobre o frio na minha barriga ao reconhecer cada pedaço de seu rosto. Enrubeci constrangido, como se todas as pessoas por perto adivinhassem o quanto você conheceu cada pedaço escondido de meu corpo em pedaços. aquela foto no outdoor me lembrou do seu gozo, da textura e da temperatura dele no meu corpo, da forma como você descansava ao meu lado cada vez que gozavamos. Lembrei que sabia de cor os caminhos de suas espinhas, e reconhecia cada fio branco novo nascido no seu cabelo tão jovem. Distâncias são dromedários. Meu desejo é deserto.

domingo, 10 de abril de 2011

Uma formiga


Escrever é apenas uma tentativa de tornar visível aquilo que não consegui ver, que me escapou entre os dedos, junto com você. Se descrevesse cenas, ou criasse qualquer narrativa estaria cada vez mais longe daquela sensação estranhamente conhecida que é a da impresença. Ao seu lado, imagens se confundiam com memórias. Fechei os olhos, e como o menino do filme, me tornei uma formiga.


Bom, dizem que não existe encontro entre duas pessoas, mas sim entre dois desejos. Então parto desse ponto para tentar me/te/nos explicar. Seu medo encontrou meu desejo, e isso te causou um certo espanto.


Meu espanto foi de ver você partindo num ônibus, com medo até de olhar para trás. Disse que não descreveria cenas, e caio eu na descrição mais clichê possível, a de uma despedida. Alguém que vai embora e não olha para trás. Alguém incapaz de ser tocado.


Prometo também não falar a palavra coração pra descrever o aperto que senti ao saber que sua impresença era medo dos meus gestos, meus gestos maladroites, do meu corpo inquieto e das minhas palavras esburacadas. Não repetirei a palavra coração pois ha tempos aprendi que celulas neuronais estão espalhadas em outros órgãos do corpo, o que justifica o meu descontrole, e os meus tombos, o que explica as incessantes endoscopias, que nada acusam.


Fechei os olhos e me tornei uma formiga.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Afeto

O afeto que move o cão, que move a moça, que move o tarado, que move o padre, que move a perda, que move o gerente, que move a mão. O afeto que move a mãe, que move a puta, que move a dor, que move a filha, que move o carro, que move as pernas que move o não. O afeto que me co-move.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

a mulher na escada

Fotografia de Ricardo Pozzo


"O sexo despedaça o corpo e o amor o reconstitui" C. Calligaris

Na escada vive a Mulher sem Rosto. Uma mulher nua. Quase Rompida. São 11 horas da manhã. A mulher está já um pouco atrasada. A força da imagem ao lado (a fotografia) é mais forte do que essas palavras que com urgência abandono nessa tela. Toda pessoa ja deve ter ouvido a ironia de alguem que diz que vai passar perfume para tirar uma foto. Nessa ironia cliche esconde uma pergunta preciosa. Que cheiro tem algumas imagens? E por que algumas imagens não tem cheiro e nem forma? são sobre perguntas clichês, sobre estados clichês que surgem alguns esboços narrativos. . Esse é um texto clichê. Sobre o corpo depois do sexo, sobre o estranho prazer e solidão de se sentir fodido. A mistura de leite de rosas e esperma espalha-se por toda a arquitetura do prédio antigo. O homem que acabara de partir também não tem rosto. Ela está deitada e ainda sente a ausência e a dilatação que arde em seus buracos. Ela está ocre. A dor que sente é memoria física da recente penetração È. uma constatação. E uma dificuldade em se levantar e juntar seus cacos/pele, seus cacos/desejos, seus cacos/ mulher. Prostrada ela sente o cheiro espalhado pela escada. Cheiro do homem que partiu, cheiro de lagrimas e pó. Ela, a mulher sem rosto, sabe que precisa sair dali, que precisa se levantar e se arrumar para ir trabalhar, para mais um dia fingir que suas pernas são suficientemente fortes para sustentar seu salto-alto. Em qualquer outro canto da cidade o Homem sem Rosto caminha pensando que nunca mais verá a Mulher da Escada, lembra de alguns de seus compromissos da semana, e rapidamente procura alguma revista numa banca de jornal, na tentativa de disfarçar um pequeno nó que apareceu entre seu pescoço e peito.

terça-feira, 5 de abril de 2011

queria escrever um texto em terceira pessoa

Queria escrever um texto em terceira pessoa que descrevesse uma mulher de mais ou menos 30 anos que espera alguém. Um texto curto. Sem longas descrições. Um texto sem pretensão. Um texto sobre medo dos cantos e sobre o som de um aspirador. Um texto fotografia. De uma mulher enrolada no cabo de um aspirador. Uma imagem que vi numa galeria de arte. Uma imagem pretexto. Um texto pretexto, pois toda frase é um pretexto para tentar tocar no invisível, para falar sobre cantos. Foi justamente por causa desse pavor dos cantos que iniciei um tratamento a base de pilulas. Escondo as pilulas debaixo da minha cama a cada novo amante que recebo. Tenho vergonha que eles percebam o tremor de minhas mãos ou que eles sintam que meu coração dispara violentamente de tempos em tempos.Tenho vergonha de mostrar que meu coração é frágil como esses despertadores de 1,99. Dentro do meu apartamento espero que ele chegue logo. Para esperar é necessário limpar todos os cantos, rasgar todos os pedaços de papeis antigos. Naquele canto ao lado esquerdo é onde ficou os traços de toda a nossa história. para escrever é preciso esvaziar.

quinta-feira, 31 de março de 2011

de olhos abertos.


São 4h08 , um homem está acordado, enquanto outro dorme. J. percebe a insônia. M. dorme como um anjo. São dois amantes

Um sonha,

outro provavelmente tem fome.

Anjos dormem? J. se pergunta já com os olhos fundos de quem não compreende esse abismo que é o sono.


Se dormir tem qualquer coisa de morte, dividir uma cama é algo tao claustrofobico como a idéia de um caixão para dois, você me entende?


J. não conseguia morrer ao lado de ninguém. Levantou-se, pediu um taxi e voltou para sua casa. M. continuou na mesma posição que estava, o mesmo jeito de trançar os braços que aprendeu talvez aos seus 7 anos de idade.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Balas, relogios e amor imperfeito.

Imagine dois relógios iguais, um ao lado do outro, marcando a mesma hora. Imagine agora um tapete feito de balas e exposto numa galeria de arte. Imagine que esse tapete tem o mesmo peso que a soma do peso real do artista +o peso do corpo de seu parceiro . 163 kg? 145? Imagine que você, público, você leitor, possa pegar uma bala se quiser e levar para sua casa. Imagine que esses 163kg possam desaparecer. Da mesma forma como as pessoas desaparecem, como um corpo desaparece, como um gesto desaparece Esses dois trabalhos chamam-se Perfect Lovers (o trabalho dos relogios) e Untitled 1 (da série chamada Placebo)e são do artista cubano Felix Gonzalez Torres.


Não pretendo fazer aqui uma análise sobre sua vida e obra. Apenas gostaria de comentar um dos seus trabalhos mais conhecidos e talvez fazer algumas conexões e/ou digressões a partir deles. Esse texto é apenas uma tentativa de tecer relações, a partir do que o trabalho de Félix me provoca e tentar pensar a busca e a im-possibilidade pela perfeiçao, seja ela no amor, na dor, no tempo, ou na dança.


Félix Gonzalez Torres foi um artista cubano, nascido em Guatemaro em 1957 e por complicações decorrentes da AIDS morreu em 1996 em Miami. Sua vida e sexualidade estão intimamente ligadas e presentes em sua obra, borrando assim espaços fronteiriços entre arte e vida. A perda e a ausencia de seu parceiro, que morreu seis anos antes dele se presentificaram em mais de um de seus trabalhos


Em Perfect Lovers, Gonzalez utiliza dois relógios (analógicos) como metáfora para falar de sincronicidade, perfeição e amor. Perfect lovers é um ready-made poético, que brinca também com a noção de tempo e morte. Perfect Lovers é talvez uma ironia que "diz"escancaradamente: Amor ou Amantes perfeitos não existem. Ou quem sabe ainda seja uma obra romântica e ingênua que relaciona tempos iguais, ritmos iguais à perfeiçao. Ou talvez não seja nada disso. O unico contato que tenho com essa obra é através do registro fotográfico. Se precisasse descrever friamente a obra diria que o que vejo são apenas dois relogios parados na mesma hora, e o título em português se traduz por Amantes Perfeitos. Bom, isso de fato, já contém uma potência metáforica enorme.



Porém o que me chama a atencão é que os relógios durante a exposição não permanecem parados, como vemos nos registros iconográficos. Os ponteiros que marcam as horas, minutos e segundos estão sincronizados. Seria isso Amantes perfeitos ? Há poucas semanas, em uma conversa com uma amiga fotógrafa, que também tem muita curiosidade e admiração pelo trabalho de Félix, descobri que em uma das galerias na qual a obra estava exposta, houve um problema com as pilhas de um dos relógios, e obviamente eles começaram a marcar horários diferentes. O artista não teve muito como interferir, pois seria praticamente impossível que ele conseguisse ter o controle do gasto de energia das pilhas para que os ponteiros permanecessem em unissono durante todo o período de exposição. A probabilidade de relogios analógicos se desconectarem é bastante grande. (observem na foto acima que os segundos já estão um pouco decompassdos)

Dizem (tenho aqui que utilizar o "dizem",pois não tenho a referência exata da fala de Gonzales, nem da situação de erro com as pilhas) que a partir disso ele se questionou sobre seu conceito/desejo pela perfeição.

O erro alterou-o de alguma maneira e alterou tambem o próprio conceito da obra. O que me comove em Perfect Lovers e na arte é a idéia de que um trabalho pode mostrar coisas que nem sempre estão sobre o controle de quem cria. Que o ato de criar é esse lugar complexo de programação, acaso, tentativa, erro. Estar atento ao acaso ou ao erro pode ser uma forma de estar na vida, de lidar com nossas expectativas e frustrações diante o ato artistico. O desvio ou o acaso podem se incorporar na criação (vida).


A relação entre arte e sobrevivência, tão intrinsica no projeto estético de Gonzalez, é outra questão que também muito me instiga, , mas que talvez seja um tema para um proximo texto.


Essa semana tive a felicidade de ganhar de presente o livro Filosofia Cinza da filósofa Marcia Tiburi. Em um dos capitulos chamado A Arte a a Morte, a autora comenta um pouco sobre a obra A vida e morte de Regis Debray. Para Debray isso que chamos de estética tem a ver com algo bem prático que é a necessidade de sobreviver. Tiburi, na sua leitura sobre a tese de Debray afirma ser a estética uma estratégia de sobrevivência para nos mantermos na eternidade. Estética seria também uma forma de nos separarmos de nossa angustiante condição mortal, de putrefação.


Resumo rapidamente esse capítulo apenas para comentar duas perguntas que me ocorreram durante essa leitura. A dança, assim como a imagem, não seria também uma forma/estratégia de lidarmos com nossa condição precária de não eternidade? O "amor " tema/questão essa tão presente, escrita, pintada, representada, dançada, saturada, em diversas manifestações artisticas, não seria também uma maneira de lidarmos com horror da hipotese que é a inexistência de Perfect Lovers, ou Amores Eternos?


Dedico esse texto a Fernando de Proença que "entretantas" coisas, me ensinou que amar é qualquer coisa de (im)perfeito

sexta-feira, 25 de março de 2011

tentativa de dialogo entre 1 e 2.

A distância entre eles era clara. Enquanto 1 tentava formar palavras que des -crê-vesse um pouco de seu des-espero, 2 encomendava uma camisa nova por um site de compras qualquer. . A conversa era estabelecida pelos dedos. O unico som existente era o barulho e a pausa das teclas. 2 pensava na ração de seu cachorro, enquanto 1 esperava uma previsivel resposta monossilabica. O som da voz de 1 tinha o mesmo grunhido dos mudos, que por uma deficiência fisiológica aprendem a cantar e chorar pelas mãos. 1 esperava, e seus olhos iam se cansando com a claridade da tela. 2 se perdia entre inumeras janelas abertas. A cada minuto passado a conversa (será esse o nome para o que eles faziam?) se tornava cada vez mais ab-surda. 2 era surdo. 1 estava cego. A apatia de 2 se opunha ao desjeito urgente de 1.

1 ia cavando um buraco em seu peito. 2 descascava uma pêra.

quinta-feira, 24 de março de 2011

a Menina e a Porta


Vem de menina essa minha atração e medo por portas. Das poucas imagens que tenho de minha infãncia uma das mais fortes é o dia em que tentei atravessar uma porta fechada. Foi nesse dia que percebi o limite entre o meu corpodesejo e o mundo. Foi nesse dia que aprendi na escola sobre ditongos e hiatos. Achei bonito saber que hiato é o encontro entre duas vogais na mesma palavra, mas da mesma maneira que não entendia o porquê que meu corpo não atravessava uma porta, não compreendia por que os hiatos eram separados na tal da separação sílabica.

Desde esse dia desconfio que há alguma coisa em comum entre portas, hiatos e amor. Sa -í -da é um hiato. Portas não.


Talvez não venha da porta o meu medo, mas do que pode estar por trás dela. Nenhuma porta deveria ter chave, pensava eu. Portas tem fechaduras. Fecha -dura. O trocadilho é infame, eu sei, como todo trocadilho. Infame também era a minha curiosidade por todo ruído que vinha de trás de uma porta cinza de madeira, de uma grande casa, aparentemente abandonada da rua em que eu morava com minha avó.


De vestido de menina e meias vermelhas, equilibrava-me na ponta dos pés por minutos.Minhas primeiras danças nasceram da vontade de ver o que se escondia de mim. Os olhos e ouvidos atentos a qualquer som que pudesse vir de dentro da casa abandonada. Eu espiava. Nunca nessa época tive a idéia de tentar abrir a porta. Nunca ninguém veio abri-la para mim. Nunca virei bailarina.


Como toda menina curiosa, cresci, e meu corpo adolescente, corpo mulher ganharam marcas. Meu primeiro hematoma, do dia que tentei atravessar a porta, desapareceu. Surgiram outros. Tive ao longo de meus anos vividos outras colisões. Alguns corpos com quem estive eram muito parecidos com as portas de minha infância. Impossivel atravessá-los. Impossível ver ou ouvir o que se passa por dentro.


Dificil separar no meio caótico de minhas lembranças o que eram pessoas e o que eram portas. Tudo está um pouco misturado, tamanhos e texturas.


Dessas imagens-lembranças a que eu recordo com frequência é a de um antigo programa de auditório que assistia junto com minha avó. Ela sempre se emocionava muito, e eu achava tudo aquilo de uma bizarrice gigante. O apresentador eu não lembro o nome, mas parecia um grande boneco de cera. E as pessoas que iam a esse programa eram sempre meio sujas e feias eu achava. Algumas aleijadas. E sempre pediam algo.


O Boneco de cera/apresentador ficava na frente de uma porta enorme, e fingia ouvir atentamente os pedidos das pessoas. Aquele suspense me irritava, queria que a tal porta se abrisse logo. Vovó as vezes chorava. A porta muitas vezes abria e lá estava o pedido da pessoa realizado. Vovó sempre dizia que o Boneco de cera tinha um coração muito bom. Mas muitas vezes, as pessoas voltavam pra casa sem o pedido realizado, a porta se abria e não havia nada dentro. Vi várias vezes alguns aleijadinhos irem embora sem cadeira-de-rodas, ou sem seus novos aparelhos ortopédicos.

Minha avó me dizia também que era preciso ter esperança, que um dia eles iriam ganhar o que precisavam. Eu, menina, curiosa, nunca entendi por que o Boneco de cera não avisava para as pessoas que elas nao iriam ganhar nada. Ficava com dó delas sairem de casa só para aparecerem na TV.


No fundo todos nós esperamos que alguma porta se abra dizia minha vó. E eu sem muito entender respondia: é que somos todos meio aleijados não é?


foto de Fritz Jr.

terça-feira, 22 de março de 2011

Enchente

Transborda-me agua pelos olhos e pelas ausências/a boca suga em desespero/clichê freudiano. Escapo-me de minha propria enchente. Disfarço a dor com um sorriso antigo. Minha mãe envelhece como todas as mães/

Argumento 1 para um coração exposto


abriu o peito, retirou orgãos e visceras e trocou por pedras britas. Pacientemente costurou a pele exposta, que já oxidava como maçã cortada. Fechou-se delicadamente com linha de anzol. Seu peito, pulmões e coração transformaram-se em asfalto depois de tres dias.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dois homens


Prometo, isso não é um texto sobre amor. Não é sobre mim, não é sobre você. Isso é uma tentativa de criar uma espécie de dança-narrativa O cenário é uma linha_______________________. Tente imaginar dois corpos sobre essa linha, a gravidade existe, não sei se felizmente ou infelizmente, mas é ela que os mantêm em pé. Esses dois corpos tem qualquer nome, eles são do sexo masculino, poderia ser um homem e uma mulher também, mas a maneira como eles se tocam me faz pensar em dois homens. Esses dois corpos homens, que poderiam ser dois corpos mulheres, estão parados um ao lado do outro. A distância entre um corpo e o outro é pequena, o que revela ao menos uma intimidade física. Como toda dança há nesse jogo entre dois corpos algumas restrições. Os dois se movem ora de olhos abertos, ora de olhos fechados. A maneira como um dos corpos se movimenta me lembra um bicho, um corpo abatido, um corpo que vai para o abate. Um parece entender mais a distancia e até os seus próprios buracos. Um corpo é pele. Outro corpo é osso. Um homem fala, outro homem finge ouvir. Sim, se trata de uma dança em que um fala e outro quase escuta. Os dois não se tocam. E uma dança de pequenas ações e gestos. Um deita, outro levanta. A vontade é de desmoronamento. Um dos corpos, (o do que fala), se esforça por não cair. O homem que finge ouvir também finge uma certa leveza. Sem perceber eles se esbarram. Sem perceber eles perdem um pouco o controle. Há nessa dança, como na relação entre esses dois homens, movimentos voluntários, como o que eles fazem com as pernas e com os braços e movimentos involuntários. O coração dispara involuntariamente. O som grave do coração se opõe a graciosidade das mãos e pernas. O coração dança em estacato. Um dos homens pausa, enquanto o outro para e percebe o desenho e o peso de suas olheiras. Há uma certa tristeza e ansiedade em um desses homens. Um deles improvisa qualquer movimento no espaço. Não há risco nessa dança. Alguém que espera é capaz de cair, de ir ao chão. Em toda dança de espera há sempre alguem que ri, enquanto alguém colapsa.

Filme Les Amours imaginaires


"E quando finalmente vem um novo e-mail na minha caixa de entrada, a mensagem não é dele, é da Amazon.com"

sábado, 19 de março de 2011

Éramos dois ou A bicicleta-novela.


Enquanto te carregava, sentia o meu proprio peso, e naquele momento era/éramos leves. Sabia que a qualquer momento um de nós cairia. O tombo é quase sempre inevitável quando os olhos se fecham. Te carregava com uma alegria serena, de quem aprende a caminhar, com a segurança de quem confia em suas pernas, e com a força de quem protege um segredo. Minha alegria infantil misturava-se com a sua gravidade, com seu peso em corpo leve. Peso de quem já entendeu que a qualquer momento alguém morre. Peso de quem compreendeu que amar é essa estranha dialética de abertura e fechamento. Estava eu ali, atento aos carros, a velocidade, aos meus pensamentos. E seu toque na minha cintura, sua mão que deslizava pelo meu corpo, que me estranhava, que me reconhecia.

No fundo nós dois ali naquela bicicleta éramos muitos. Rodávamos como os pneus no asfalto. Eramos jovens, crianças, eramos cansados, com um pouco de esperança, amargurados, cheio de ansiedade, éramos famintos, pequenos, éramos inocentes, éramos agressivos. Eramos puros, lascivos. "Éramos dois"

quinta-feira, 17 de março de 2011

Quando a maizena empedra ou contando ////


No fundo era do medo do abismo que você fugia. Estou parado e minhas mãos, nervosas, desenham pensamentos no espaco. Meus dedos-ansiedade se mexem de maneira tensa e articular. A boca mastiga o tempo e a espera. Cada segundo me escorre como lâmina afiada_________________________________enquanto conto os minutos passados em palitos /////////////////////////. Onde você estava que não te vi? Conto 235 palitinhos. Você atrasado. Lembro do dia em que me disse que era leve e que não suportava nenhum peso. Minha bacia pesa. Pensei que também queria ser leve como você, mas não podia deixar de sentir os pesos de meus ossos. Meus ossos tem água e tem peso, você sabia? 485 ///. Não irei repetir a palavra palito, até porque não acho sua sonoridade interessante. A partir de agora tente entender o que eu desenho. Sei que você pode ser capaz. Tente imaginar uma noite chuvosa, uma pessoa debaixo de uma marquise esperando uma outra que não chega. A situação pode ser outra se você preferir. Alguém na sua casa, grudado ao lado de um telefone, esperando pelo som que não toca. Bom, teria outras inúmeras situações que poderia descrever, mas acho que você entendeu que o cenário é de espera. Conto 756 //.


Debaixo da marquise rasgo o papel de presente. Olho para o presente que não te darei, pois você não chegará, nem ao fim desse texto, nem daqui uma semana. Você é uma falácia, ou seria você um fanstasma? O presente: um livro que acho que você nunca lerá, mas que se quiser te enviarei um resumo por e-mail. Trata da historia de uma nordestina que toma aspirinas na tentativa de parar de se doer. 987///. Penso no meu dorflex que esqueci na mesa de casa. Como a nordestina do tal livro, tambem me viciei em analgesicos, mas ainda sinto que alguma coisa continua me doendo. 2345//. O telefone toca. Disfarço o engasgo da minha voz. Sabe aquela sensação horrivel, de perder o controle da propria voz? Você suave, você alegre, você falácia me convida para uma festa, para dançar, para sair debaixo dessa marquise. Meus pés ja estão cravados. A espera foi grande, acho que você pode imaginar o que e contar lentamente 5682 //. Juro, contei lentamente. Não aceito o convite. Volto para casa, tomo o meu dorflex. Não lembro onde deixei o presente que nunca receberá. Tento dormir.

quarta-feira, 16 de março de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

oração a alguém distante.


bocasecanervosempele. é um desejo sem nome. com um rosto desconhecido. Escapulo -tombo-deslizo. . Tonteio, pernas bambas. Encontro entre palavras e nervos um pouco de silêncio. Flores secas. Quando o que a gente sente não tem nome? Quando o coração palpita nervoso? E quando a vontade é de revirar gavetas e todos os meus tecidos. Essa vontade é doída. quase agulha debaixo das unhas. Faço um poema pra você. Você surdo. Voce Tomé cego. Santo. Distante. Você que um dia me leu, você que um dia soube e até contou as minhas palpitções. Você que me ofereceu maizena e dor. Você, longe. Entre eu e você um oceano de distância.

Meus pensamentos/palavras são o que restam agora de tudo o que me atravessa. Aqui a temperatura é sempre a mesma. Respondo todos os dias as mesmas perguntas, e algumas vezes gargalho das não -respostas . A resposta é apenas um pretexto para mexer meus labios. Ofereço pra você um poema em /// . As minhas pernas, hoje doloridas, daquela dança estranha. Dança de ossos e cerebelo. Te entrego meu inventário de sentimentos. Meu inventário de clichês, de imagens desgastadas, de palavras repetidas. Eu te amo escapa, com água e dor. Silencio cavado.

Sua incapacidade de abstração me enche de legendas. Sou um corpo legendado. Esbarro em espaços fronteiriços.. Tenho dedos que movem sozinhos, em direção ao ar, à boca. Essa dança estranha de meus dedos nasceram dessa sua ausência. Você cego. Voce Tomé. Você santo. Você inexistente. Esbarro em espaços inexistentes. Você uma bola verde escrito "disponivel". Você virtualmente vivo. Você que lateja. Cego. santo. Suporto meu peso.

segunda-feira, 14 de março de 2011

espeta coração espeta.


o que sou e não posso dizer que sou


de Luana Navarro.

Erotismo e poesia

"La poésie mène au même point que chaque forme de l'érotisme, à l'indistiction, à la confusion des objets distincts. Elle nous mène à l'éternité, elle nous mène à la mort, et par la mort, à la continuité: la poésie est l'éternité. C'est la mer allée avec le soleil" - G. Bataille.

nota sobre o Menino Buraco

Perturbado pelo filme Pillow Book, Menino Buraco caminhou por ruas estreitas atrás do escritor que pudesse tatuar seu corpo. Não aceitava tintas, muito menos agulhas. Pedia para que apenas pedaços de pele e dedos increvessem seus vazios. Pediu para que o Rapazdobalcão o tocasse, mas deixando espaços incompletos. Menino Buraco entendia sua condição esburacada. Entendia que era feito de falta e de carne, que seu corpo era precário como estrada interditada, ffrio e liso como uma pista de gelo, macio como pedaço de algodão. ELe era feito de nuvens e metal. Alegrias e acidez...

nota sobre seu medo de altura

Foi com a curiosidade de uma criança que cospe pela janela de um prédio e se esconde, foi com vertigem de uma moça que se assusta com seu pavor de altura ou com seu desejo pelo voo, foi com todo o frio que existia na minha barriga que te mostrei meu abismo. Você não teve a mesma curiosidade da criança, a mesma intensidade da moça e nem a mesma temperatura de meu corpo. Você partiu, pq tinha medo da gravidade, medo da altura, medo da propria pele